Anfavea insiste em culpar só imposto por preço alto no Brasil
Entidade destaca carga tributária, mas não abre caixa preta dos preços
FONTE:http://www.automotivebusiness.com.br/noticia/23398/anfavea-insiste-em-culpar-so-imposto-por-preco-alto-no-brasil
GIOVANNA RIATO, AB

Segundo destaca Moan, um automóvel com motor entre 1.0 e 2.0 tem carga tributária de 54,8% no País, considerando o total de impostos aplicados sobre o preço de custo do veículo e os tributos embutidos na cadeia produtiva e não-recuperáveis. Com isso, o Brasil tem encargos mais pesados do que países como a Rússia, onde os impostos chegam a 22%, e os Estados Unidos, onde o porcentual é de 7,5%. Para carros com motorização até 1.0 a carga é de 48,2%. Segundo a Anfavea, isso quer dizer que vão para os cofres públicos 27,1% do preço de venda de um veículo da categoria.
Traduzindo em moeda, Moan aponta o exemplo do Fiat Palio Fire, automóvel mais barato à venda no Brasil, com preço de tabela de R$ 28,3 mil para a versão duas portas 1.0. Convertido em dólar, na cotação de janeiro deste ano, o montante daria US$ 7,3 mil. Caso fosse descontada toda a carga tributária apontada pela Anfavea, este preço cairia para US$ 4,9 mil, valor baixo se comparado com os preços internacionais. Pode até ser, mas o Palio Fire e seu baixo nível de conteúdo só existe no Brasil e países vizinhos, portanto não há como compará-lo com um carro global. Além disso, o real desvalorizado deixa qualquer veículo bem barato em dólares.
Moan insiste que, mesmo com tantos encargos, o preço do carro brasileiro evolui em ritmo menor do que a inflação. O IPCA, considerando toda a economia, aumentou 187,3% de 2004 a 2015, ao passo que a evolução dos valores dos veículos neste mesmo período foi de 123,4%. “Em 1995 um Volkswagen Gol custava o equivalente a US$ 9 mil, o que correspondia a 107 salários mínimos. Em 2015 este valor era de US$ 8,2 mil, algo em torno de 40 salários mínimos”, indica. Claro, o salário mínimo subiu acima da inflação e o real perdeu mais de 50% de seu valor diante do dólar só no último ano, o que distorce completamente essa comparação.
MAS E O PREÇO DO CARRO?
Os dados expostos pela Anfavea mostram que o plano de abrir a caixa preta do preço do carro no Brasil ficou só na promessa. No lugar de um estudo do valor cobrado por automóveis no País, a entidade mostrou levantamento sobre a carga tributária. Há quase três anos a Anfavea declarou estar trabalhando no material. Ainda assim, os dados foram divulgados oportunamente quando o dólar está valorizado, o que dá a falsa impressão de que os preços praticados no Brasil estão abaixo do mercado global.
A comparação mais justa deveria ser feita pela paridade de poder de compra ao mostrar, por exemplo, quantos salários médios são necessários para comprar determinado carro no mercado nacional e em outros países. Neste caso, o modelo analisado teria de ter o mesmo nível de equipamentos nos dois países, incluindo sistemas como controle eletrônico de estabilidade (ESC), que é obrigatório na Europa, mas localmente ainda tem participação tímida nas vendas.