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Toyota lança este mês no Brasil a quarta geração do
híbrido Prius, desta vez com esperança de tornar a tecnologia melhor compreendida e mais desejada pelos consumidores brasileiros, que até agora compraram pouco menos de 800 unidades da versão anterior, lançada aqui em 2012. Misturando propulsão elétrica com um motor a gasolina, o carro tem como principal atrativo a economia de combustível e redução de emissões. Pode rodar na cidade 18,9 km com apenas um litro de gasolina, segundo medições do Inmetro. O novo Prius será vendido por R$ 119.950, quase R$ 3 mil acima dos R$ 117 mil que eram pedidos pelo modelo anterior, assim continuará sendo o modelo híbrido mais barato do mercado nacional. Ainda assim, segue sendo caro para se popularizar como opção tecnológica ambientalmente amigável. Por isso a fabricante japonesa insiste que os benefícios oferecidos pelo Prius merecem mais incentivos para avançar no País, como acontece em outros lugares do mundo.
A Toyota garante que a nova geração do modelo deveria custar bem mais aqui, devido aos avanços tecnológicos que traz. “Começamos a discutir no início deste ano o preço do novo Prius e esse foi o maior desafio que enfrentei desde que cheguei aqui há 10 meses”, conta o português Miguel Fonseca, vice-presidente executivo da Toyota do Brasil. “Chegamos inicialmente ao valor de R$ 172 mil, que estava longe do que queríamos para propagar a tecnologia. Com muito esforço, baixamos para R$ 135 mil, que consideramos ser um preço justo”, revela.
Foi quando Steve St. Angelo, CEO da empresa para América Latina e Caribe, disse que interferiu para reduzir mais e chegar aos quase R$ 120 mil. “Sou um homem de engenharia e manufatura. Nossa intenção com o Prius não é só vender o carro, mas popularizar a tecnologia híbrida para torná-la viável no País. Por isso fizemos esforços para cortar esse valor ao mínimo possível”, conta. Com o novo Prius mais refinado, melhor desenhado e avançado tecnologicamente, a ideia desta vez é ampliar a gama de clientes para além de frotistas e taxistas, conquistar clientes individuais que compram outros modelos nessa mesma faixa de mercado, mesmo aqueles que não precisam se preocupar em economizar combustível. “Queremos mostrar que o carro não é só uma opção mais ecológica, mas também muito agradável e divertido de dirigir”, destaca o executivo.
Em 2015 o imposto de importação dos híbridos foi reduzido de 35% para 4%, mas a desvalorização do real encobriu o benefício e os preços não baixaram. Adicionalmente, as prefeituras de São Paulo e do Rio de Janeiro isentaram sua parte no IPVA dos híbridos e, na cidade de São Paulo, eles ficaram livres do rodízio municipal. Contudo, as vendas dos quatro modelos disponíveis – além do Prius, o Lexus CT200h (marca de luxo da Toyota), o Mitsubishi ASX e o Ford Fusion Hybrid – não passam de 800 unidades por ano. Enquanto isso, os híbridos já representam 20% das vendas nos 48 países da Europa e no Japão. Este ano os japoneses devem comprar 5 milhões de unidades híbridas.
“Quando lançamos o primeiro Prius, em 1997, perdíamos US$ 10 mil por carro vendido. Nem sei como ficamos no negócio. Mas o governo japonês compreendeu a importância de incentivar a tecnologia que protege o meio ambiente com redução significativa de emissões. Por isso hoje cada Prius vendido no Japão carrega cerca de US$ 1,3 mil em isenções tributárias”, compara Koji Kondo, presidente da Toyota do Brasil. “Agradeço os incentivos já concedidos pelo governo brasileiro, mas ainda não são suficientes. É necessário um desconto maior no IPI para tornar o carro mais acessível aqui”, pede o executivo.
“Acreditamos que a tecnologia híbrida representa o futuro da indústria automotiva, já existem cerca de 9 milhões de carros híbridos circulando no mundo todo, que evitaram emissões de 67 milhões de toneladas de CO2 e economizaram 25 bilhões de litros de gasolina. O Prius foi o primeiro híbrido produzido em massa e começou a mudar o jogo no setor, hoje é o mais vendido do segmento (5,7 milhões já comercializados)”, recorda St. Angelo. “A Toyota tem plano de até 2050 ter 100% de toda sua linha formada por híbridos ou elétricos a célula de hidrogênio. Na nossa visão não há mais espaço para veículos que só queimam um combustível. Estamos vivendo uma revolução, mas estou preocupado que essa evolução está demorando a chegar na América Latina”, destaca o executivo.
FUTURO NA AMÉRICA LATINA
St. Angelo avalia que o novo Prius terá a missão de divulgar mais a tecnologia híbrida aos brasileiros. Enquanto ainda espera receber mais incentivos fiscais, a Toyota tentará fazer mais barulho com a nova geração, cedendo em comodato o carro para frotas e promovendo eventos em universidades, por exemplo.
“É preciso mostrar que dirigir um híbrido é divertido, o carro tem bom desempenho, é econômico e silencioso, reduz sensivelmente o estresse ao dirigir”, ressalta. “Especialmente em cidades como São Paulo o híbrido é perfeito no anda-e-para do trânsito, movendo-se silenciosamente só com o motor elétrico, com grande economia de combustível e redução da poluição. Por isso estou confiante que a tecnologia híbrida tem grande futuro na América Latina”, aposta.
Miguel Fonseca diz ser um “fanático” pela tecnologia e vem dirigindo híbridos nos últimos 15 anos em que trabalhou na Toyota Europa, onde um quarto das vendas da marca são de híbridos. “É atualmente o coração de todas as tecnologias energéticas e tem grande potencial no Brasil, pois é um veículo rápido para abastecer, muito econômico e maleável, inclusive com a possibilidade de se combinar a motorização híbrida com o etanol. O Prius pode pavimentar o caminho para os híbridos no País e tornar possível a fabricação local no futuro”, diz.
EVOLUÇÃO REFINADA
A quarta geração do Prius melhorou sensivelmente em relação a seu antecessor, entregando mais conforto, desempenho, segurança e ainda mais economia. É o primeiro modelo da marca a ser montado sobre a plataforma TNGA (Toyota New Global Architecture, ou Nova Arquitetura Global da Toyota). A quantidade de chapas de aço de alta resistência utilizadas na construção da carroceria aumentou de 3% para 19%, elevando em 60% a rigidez estrutural do veículo para assegurar maior estabilidade e proteção aos ocupantes em caso de colisão.

O Prius ganhou desenho com traços triangulares que deram ao carro uma nova identidade, mais marcante e esportiva. Seu centro de gravidade está mais baixo e o coeficiente aerodinâmico (Cx) foi reduzido de 0.25 para 0.24, o menor do mundo em um carro desta categoria, resultando em melhor desempenho. A distância entre-eixos de 2,7 metros foi mantida, mas todas as outras dimensões cresceram um pouco. Mais longo, mais largo e com a dianteira rebaixada em 70 mm, o novo Prius ficou muito estável e agradável de guiar.
O modelo continua a ser uma referência mundial em baixa emissão de poluentes, ejetando no meio ambiente cerca de 40% menos CO2 na comparação com um veículo convencional. Pelas medições do Inmetro, o novo Prius é considerado hoje o carro mais eficiente do País, registrando consumo de 18,9 km/l em ciclo urbano e de 17 km/l em rodovias, índices que melhoraram expressivos 24% e 19%, respectivamente, em relação à geração anterior. Quando confrontado com um modelo de mesmo porte a gasolina, é até 52% mais econômico na cidade e 42% na estrada.
Com quase 20 anos de experiência, a Toyota refinou bastante a tecnologia híbrida do Prius. O powertrain combina transmissão automática CVT com dois motores que trabalham combinados: um a gasolina 1.8 VVT-i de 98 cavalos ciclo Atkinson, que privilegia a economia, e outro elétrico de 72 cavalos, que pode trabalhar sozinho em baixas velocidades e ajuda o outro propulsor a combustão quando se requer mais potência, chegando ao total de 123 cv disponíveis. Esse arranjo ficou 11% mais leve e reduziu em 33% o espaço ocupado no novo Prius. Na prática, o propulsor elétrico conduz o carro no anda-e-para do trânsito sem gastar gasolina, mas funciona como um impulsor que oferece torque pleno imediato e tira o carro da imobilidade de forma muito ágil, ajudando o motor a combustão e garantindo prazer de dirigir.
A Toyota também fez bom trabalho no motor a combustão, que aumentou para 40% sua eficiência energética (contra média histórica de 30% da maior parte dos motores), graças a melhorias no sistema de combustão e uso de alto volume de gases no sistema de recirculação de exaustão (EGR). Adicionalmente, a entrada de ar da admissão foi redesenhada para melhorar o fluxo de ar dentro da câmara de combustão, e o sistema de refrigeração foi aprimorado, otimizando a temperatura interna do motor. O atrito dos componentes deslizantes foi reduzido com uso de óleo de baixa viscosidade. O propulsor elétrico está mais compacto e teve sua relação peso/potência melhorada. Em comparação à geração passada, houve redução de 20% nas perdas mecânicas por fricção.
A bateria de níquel, responsável por alimentar o motor elétrico do Prius, antes localizada no porta-malas, foi transferida para a parte inferior direita do banco traseiro, contribuindo para a redução do centro de gravidade e aprimorando a estabilidade na condução do veículo, sem comprometer o espaço interno. Para ajudar na recarga da bateria e garantir maior autonomia elétrica, o Prius tem sistema de frenagem regenerativa, que acumula a energia cinética transformando o motor em gerador elétrico.

Por dentro, o novo Prius subiu de nível, ganhou acabamento de primeira, com bancos, volante e laterais revestidos com couro, painel emborrachado e detalhes em plástico black piano.
O painel de instrumentos 100% digital fica centralizado e engloba duas telas que somam sete abas diferentes com informações de velocímetro, odômetro, funcionamento do sistema híbrido e computador de bordo, que entre outras funções calcula o desempenho de consumo do carro e também o gasto em dinheiro com combustível em diversos períodos de uso. Todas as funções podem ser controladas por meio dos botões no volante multifuncional. O carro também vem de série com headup display, que projeta o velocímetro, informações do sistema híbrido e do navegador virtualmente à frente do motorista.
No centro do painel uma outra e grande tela sensível ao toque mostra o mapa de navegação por GPS e informações do sistema multimídia. No console central o Prius tem sistema de recarga do smartphone por indução – basta deixar o aparelho repousar sobre a “almofada” de recarga (para os celulares que têm essa funcionalidade).
No Prius tudo foi pensado para elevar a eficiência ao máximo. O ar-condicionado elétrico S-Flow não para quando o motor a combustão desliga e reconhece quando os bancos estão desocupados, fechando o fluxo naquela área para aumentar a economia. Faróis e lanternas são 100% em LED, o que garante mais eficiência luminosa e redução do gasto energético.
A Toyota garante que o gasto com manutenção também é reduzido. O motor elétrico substitui as correias e o motor de arranque, além de atuar também na frenagem regenerativa, diminuindo o esforço do sistema de freios.
Com a oferta de grande pacote tecnológico e design mais atraente do que o antigo Prius, a Toyota tentará emplacar mais híbridos no Brasil. Para isso também baixou para R$ 142 mil e R$ 149 mil os preços das duas versões híbridas do Lexus CT200h vendidas aqui. Ainda é uma incógnita se conseguirá sensibilizar os clientes brasileiros, que usualmente, nessas faixas de preços, não dão a mínima para economia de combustível. Mas poderão, eventualmente, posar de ambientalmente corretos com carros que são realmente muito agradáveis de dirigir.